Histórias Curtas

O dia em que Marcia Quebrou o Despertador

Sua vida perdeu o sentido e todos os dias ela brigava com o despertador, sem nenhuma vontade de sair da cama até que …

A história de Marcia me fez refletir sobre os LIMITES. Passei algum tempo pensando sobre isso, tentando compreender o que leva uma mulher a cometer um ato daqueles, com tanta violência. A natureza da mulher não é violenta, mas Marcia estava no limite.

Naquele momento eu tinha muitas perguntas na minha mente e apenas uma certeza… eu queria compreender os limites. Então fui em busca de respostas.

Comecei a estudar sobre o tema e passei a observar os limites das coisas, das situações e das pessoas. Percebi que tudo tem seus limites.

Se você ativar seu olhar observador também conseguirá enxergar que há limites em tudo ao nosso redor, inclusive nas pessoas, que é o tipo de limites que estamos estudando aqui. Mas vamos começar com os limites das coisas, isso nos ajudará a compreender melhor os limites das pessoas, que são mais sutis e difíceis de perceber.

Olhe para a tela onde você está lendo este artigo agora. Talvez você tenha um celular em sua mão ou está lendo o artigo na tela de um computador. Na verdade não importa o tipo de aparelho que você está usando, apenas observe os limites da tela à sua frente. Observe que o texto do artigo está organizado dentro do LIMITE da sua tela, não tem nenhuma palavra, nem mesmo uma letra, caindo para fora do limite da sua tela. O texto está dentro de um limite e quando você escolheu ler este texto a sua mente se condicionou a focar toda a sua atenção nas palavras que estão escritas e devidamente organizadas dentro do limite da sua tela. Você sabe que aquele é o limite do texto que você escolheu ler. Mas estamos falando de coisas, mais precisamente sobre o limite das coisas. E sabemos que as coisas não tem consciência.

Mas vamos fazer um exercício de imaginação.

Imagine que na sua tela agora, ao invés deste texto, você está olhando para a vida de uma pessoa, a vida de Marcia, por exemplo. E a vida dela está presa dentro dos limite da sua tela de leitura. Imaginou?

Será que Marcia teria consciência dos seus limites?

Será que Marcia teria controle sobre seus limites?

Será que Marcia estaria escolhendo seus próprios limites?

Ou será que Marcia deixaria sua vida dentro do limite que alguém determinou para ela?

E, quanto mais eu estudava, mais as perguntas aumentavam.

Como saber qual é o limite?

Todos tem o mesmo limite pra tudo?

O que acontece quando se ultrapassa um limite?

Quais são consequências para quem ultrapassa um limite?

O que leva uma mulher a ultrapassar seus próprios limites?

É possível parar antes de chegar no limite?

Até onde o limite pode ser elástico?

Por que Marcia não percebeu que estava chegando no seu limite?

E assim a minha cabeça se enchia de perguntas, cada vez mais. Curiosamente todas as perguntas me faziam pensar novamente na história de Marcia. Então resolvi buscar mais detalhes daquela história. Eu queria muito resolver o mistério e precisava compreender o que levou Marcia ao limite.

Vamos voltar no tempo para analisar melhor esta história.

Marcia tinha apenas 34 anos na época. Estava solteira porque ninguém era bom o bastante para ela. Não fez faculdade porque não conseguiu escolher um curso e perdeu o prazo do vestibular, depois encontrou outras desculpas e acabou sem formação acadêmica. Mas ela era muito inteligente e adorava aprender, então seguiu por uma jornada autodidata, sem perceber que esta foi na verdade a sua escolha.

No dia em que Marcia quebrou o despertador ela trabalhava como Secretária num escritório de Contabilidade e odiava ter que sair da cama para trabalhar. Mas não foi sempre assim, no início era diferente, ela estava sempre sorrindo e animando seus colegas de trabalho.

Ela não percebeu, mas o sorriso foi se apagando aos poucos. Dia após dia a vida foi perdendo o Brilho para ela.

Depois de 10 anos trabalhando no mesmo escritório ela ainda estava exercendo a mesma função. Seu salário aumentou bastante durante este tempo, o que acabou dificultando as coisas. Afinal, quem abandonaria um bom salário para se aventurar no sonho de iniciar um negócio próprio?

Ela então apenas continuava acordando todos os dias com o som de um barulhento despertador. Marcia apenas continuava acordando todos os dias com o som de um barulhento despertador. Levantava da cama meio sonolenta e passava o dia no piloto automático.

Esta vida rotineira foi se instalando silenciosamente e ela nem percebeu o que estava acontecendo, mas ESTAVA ACONTECENDO. Cada dia ela acrescentava um pouco mais de MESMICE na sua vida!

Nos primeiros anos como secretária naquele escritório, ela ainda podia contar com o desafio de aprender coisas novas, e aprendeu tanto que acabou atraindo para si muitas tarefas que nem faziam parte do seu contrato de trabalho. Então agora, uma década de rotina depois, ela estava infeliz, sem motivação e super-atarefada. Corria o dia inteiro para dar conta de tudo mas, vamos ser sinceras, tudo o que? Aquele trabalho que foi tão maravilhoso no início agora não fazia mais nenhum sentido para ela. Que motivos Marcia tinha agora para sair da cama? Na verdade o único motivo que ainda tirava Marcia da cama pela manhã era o salário que recebia no final do mês, um bom salário sim, mas não era nenhuma fortuna, apenas bom o bastante para Marcia se acomodar e ela acabou se fechando para novas possibilidades.

Ela não saberia dizer o que, exatamente, provocou aquela violenta reação. Olhando de fora podemos pensar que foram camadas e mais camadas de frustrações e muita… muita mesmice se acumulando dentro de Marcia quando disparou aquele gatilho.

Sentada no chão e olhando para todo aquele estrago, Marcia estava ainda mergulhada num estado de transe, com a consciência alterada de uma forma violenta e sem controle. A respiração ofegante. Deu uma última batida com o martelo sobre uma peça do despertador que estava à sua frente e saiu do transe quando o telefone tocou. Sua reação foi automática, ela pegou o telefone e atendeu. Por sorte o telefone tocou quando ela estava saindo daquele transe violento. Se tivesse tocado antes talvez ela estivesse sem celular agora. Marcia pensou nisso e achou muito engraçado o seu pensamento. Atendeu o telefone rindo e a pessoa do outro lado estranhou porque há muito tempo Marcia tinha parado de distribuir sorrisos, principalmente assim, de manhã cedo.

Era seu amigo ao telefone perguntando se ela não ia trabalhar. Eles costumavam ir juntos para o escritório e Marcia nunca se atrasava, então o amigo resolveu ligar para saber porque ela não estava no lugar combinado.

Ainda sentada no chão, segurando o telefone e olhando todo aquele estrago à sua frente, Marcia saiu de vez daquele transe e dispensou a carona do amigo.

– Não vou trabalhar. (Ela disse ao amigo que a encheu de perguntas.)

– Não, eu não vou trabalhar hoje, nem amanhã, nem nunca mais naquele escritório. Eu vou cuidar da minha vida. Está na hora de cuidar de mim.

O amigo ainda tentou conversar. Aquilo era uma loucura e ele queria respostas, pois se importava com sua amiga que estava muito estranha ao telefone.

Ela o acalmou. – Está tudo bem sim, só que hoje eu acordei pra vida. A gente fala de noite, depois te explico, agora preciso cuidar de umas coisas aqui.

Desligou o telefone e começou a limpar o estrago que ela tinha feito. Cada peça quebrada que ela recolhia do chão e colocava na lata de lixo disparava um novo flash de memória da cena violenta que acabou de acontecer na sua vida e não tinha ninguém com ela para testemunhar sua loucura.

– Que bom que não tinha ninguém por perto porque se alguém visse o que eu fiz, certamente eu estaria numa camisa de forças agora. Ela riu mas não achou engraçado de fato. Na verdade um arrepio de medo percorreu todo seu corpo naquele momento. E continuou recolhendo os restos do despertador que ela quebrou a marteladas quando tocou o alarme naquela manhã.

Marcia estava há alguns anos vivendo muito perto do seu limite, por isso ela não sabia qual foi o gatilho que disparou aquela reação tão violenta num dia aparentemente tão igual. O fato é que naquele dia, quando o despertador tocou, Marcia chegou no limite e sua reação foi violenta, mas ela ACORDOU PARA A VIDA.

A história de Marcia me ajudou a perceber que ninguém deveria chegar tão perto de seus limites, pode ser muito perigoso. Cada pessoa tem reações diferentes diante de fatos iguais.

Esta história me faz pensar sobre os meus próprios limites. Com ela compreendi o quanto a vida pode se tornar sem sentido quando nos perdemos numa rotina infinita sem cuidar do que alimenta nossa alma. E o quanto pode ser perigoso ir até o limite.

Depois daquele dia Marcia deu um novo rumo à sua vida. Ela foi em busca de um trabalho que fizesse sentido para ela e não sossegou até descobrir seu verdadeiro propósito de vida. Agora ela sente que está cumprindo sua missão, fazendo exatamente o que veio fazer neste planeta. E isto faz todo sentido.

– Então é isso que significa fazer sentido, pensou Marcia em sua nova mesa de trabalho, enquanto admirava a tarefa que acabou de concluir.

Depois que quebrou aquele despertador Marcia nunca mais precisou de relógio para acordar pela manhã. Sua alma canta quando nasce o Sol e ela acorda animada para mais um dia que agora ela aproveita para viver intensamente.

Confesso que nunca tive um ataque de raiva como aconteceu com Marcia mas meus limites também já foram fortemente testados e agora, relembrando a história de Marcia eu percebo que cada mulher tem seus próprios limites. A vida não vem com Manual de Instruções e esta é a grande beleza da vida. Podemos todos aprender com as experiências uns dos outros, mas a jornada é sempre individual.

Quando Marcia chegou ao seu limite ela quebrou o despertador num violento e desesperado grito de socorro.

Os meus limites me levaram a situações muito diferentes da história de Marcia e sabemos que você que está lendo esta história também tem seus desafios particulares e seus próprios limites.

Mas existe algo na história de Marcia que vale para todas nós. Estou falando sobre ter consciência dos seus limites. Se Marcia tivesse consciência do que estava acontecendo na vida dela poderia evitar o desgaste, a dor e as consequências de um ato tão violento.

E você que está lendo este texto até agora? Você tem consciência do que está acontecendo na sua vida neste exato momento? Você conhece seus limites? Até quando você consegue suportar uma rotina exaustiva? Quando você vai começar a ALIMENTAR A SUA ALMA?

Pense sobre isso! É a Sua Felicidade que está em jogo.

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